WASHINGTON – O fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, disse que suas próprias informações pessoais foram vendidas para terceiros no escândalo de vazamento de dados da rede social. No segundo dia de depoimentos prestados pelo empresário no Congresso dos Estados Unidos, o bilionário destacou ainda que não comercializa dados de usuários para anúncios e que a regulação dessa indústria é “inevitável”.
Zuckerberg reconheceu a venda de seus dados pessoais ao responder a um questionamento sobre as queixas de abuso e uso antiético dos informações de usuários de sua rede social. A admissão indica que organizações tiveram acesso a dados do empresário que não estavam disponíveis ao público. No escândalo, os desenvolvedores puderam acessar informações de usuários ligados aos de alvos do vazamento.
— Sim — frisou Zuckerberg, sem detalhes, diante da pergunta de uma eleitora da congressista Anna Eshoo, que levou à sessão questionamentos do público.
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Ao ser questionado por Raul Ruiz sobre informar a FTC a respeito do escândalo da Cambridge Analytica, em 2015, Zuckerberg respondeu:
– Eu não acredito que tínhamos, necessariamente, a obrigação legal de informar à Comissão Federal de Comércio – disse.
Zuckerberg afirmou ainda que a empresa usa cookies (pequenos pedaços de código que rodam no navegador para rastrear a atividade na internet) para ver como as pessoas interagem com os servidores, mesmo deslogadas.
Segundo ele, isso é usado apenas para fins de segurança, para ver se bots e agentes mal-intencionados estão coletando dados públicos do Facebook.
Perguntado sobre a possibilidade de o Facebook “ouvir” as conversas de seus usuários e, mais especificamente, se compra este tipo de dado de outras empresas, como a Amazon (que fabrica o sistema assistente por comando de voz Alexa), Zuckerberg nega e diz acreditar que este fenômeno é uma coincidência.
Nesta terça-feira, Zuckerberg pediu desculpas pelas falhas da gigante de comunicação e destacou que a companhia “está trabalhando” com o investigador Robert Mueller na apuração federal sobre a interverência russa nas eleições de 2016.
Durante os dois dias de depoimento, os parlamentares acusaram a rede social de falhar na proteção de informações pessoais de milhões de usuários. O empresário foi convocado a depor diante do Congresso americano depois da revelação de que a empresa Cambridge Analytica teve acesso indevido a dados de 87 milhões de internautas cadastrados na plataforma. As pessoas atingidas só começaram a ser notificadas na segunda-feira.
Cerca de 270 mil pessoas acessaram um teste de personalidade no Facebook e aceitaram compartilhar informações de seus perfis, sem saber que, asssim, estavam abrindo a porta para que o pesquisador que criou o quiz acessasse também os dados de seus amigos. Foi ele quem passou adiante a massa de informação para a Cambridge Analytica — prática que o Facebook diz ser contra as regras da rede social.
‘É IMPOSSÍVEL NÃO COMETER ERROS’
No primeiro dia de audiência, que durou mais de cinco horas, Zuckerberg foi fortemente pressionado pelos senadores — que trataram não só do escândalo de dados envolvendo a Cambridge Analytica (CA), mas de anúncios políticos, discursos de ódio e concorrência — e afirmou que apoia, “em princípio”, a criação de regras para o uso de dados pelas empresas de tecnologia.
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O executivo insistiu que o Facebook está melhorando suas ferramentas para retirar do ar conteúdo discriminatório e de ódio, mas ressaltou que “é impossível não cometer erros”. E lembrou que “milhares de aplicativos” estão passando por uma auditoria, para que não se repita o caso da CA.
Zuckerberg voltou a dizer que a empresa está trabalhando para assegurar a integridade das eleições este ano, citando o Brasil, além de Índia e México.
Ele insistiu em afirmar que os usuários têm controle sobre o que compartilham na rede social, pois escolhem o que publicar e quem pode ver o conteúdo.
Por: globo.com