Em junho de 1944 foi lançada a 1ª Exposição. Entre a primeira e a segunda, houve um intervalo de nove anos
Crato. 1º de maio de 1944. O Café Isabel Virgínia, ponto de encontro dos políticos, vivia mais um dos seus tranquilos dias de cidade do Interior. Ali estavam para uma conversa amena o prefeito em exercício, Wilson Gonçalves, seu cunhado, professor Pedro Felício Cavalcante, dentre outros. Wilson Gonçalves, dirigindo-se diretamente ao saudoso Pedro Felício, disse que precisavam criar um evento para movimentar a cidade. E assim, entre um pires de doce de leite e um cafezinho, nasceu a ideia de uma Exposição Agropecuária do Crato, que foi posta em prática quase que imediatamente.
A conversa foi presenciada pelo radialista e memorialista Huberto Cabral, que acompanhou também os primeiros passos do evento. Cabral recorda que, no fim de maio do mesmo ano, o prefeito Wilson Gonçalves foi a Fortaleza participar de uma audiência com o secretário estadual da Agricultura e Pecuária, o agrônomo Rui Monte, em busca de apoio do governo para concretização do sonho, alegando que apesar da cidade não ser de tradição pecuária, o evento traria um desenvolvimento e aprimoramento maior desse setor na cidade. Enfrentou todos os obstáculos contrários a realização da feira, derrubando argumentos fortes e conseguindo o apoio do governo para a realização da 1ª feira agropecuária.
Ao retornar ao Crato, foi recebido com alegria pelos políticos, representantes da classe agropecuária e outras autoridades da região na Praça da Estação. “Tinha até banda de música!”, Lembra Cabral, destacando que a repercussão da notícia foi feita pela imprensa local, que divulgou a novidade na amplificadora local e na edição dominical do jornal “A ação”.
O próximo passo do prefeito, de acordo com Cabral, foi fazer uma reunião com o bispo diocesano, dom Francisco de Assis Pires, quando então solicitou a doação de terreno para a realização do evento. Conseguiu o terreno de um antigo sítio da Casa de Caridade de Crato, fundada pelo Padre Ibiapina, onde hoje se localiza a Reitoria da Urca. Instalaram no local um parque para a primeira exposição e criaram uma comissão central que cuidaria de todo o trâmite necessário para a realização da primeira exposição.
Primeiro evento
No dia 21 de junho de 1944 foi lançada a 1ª Exposição Agropecuária do Crato pela portaria 100/1944, nomeando como patrono e presidente o professor Pedro Felício Cavalcanti, e criando a primeira Comissão Central Organizadora do evento. Os então organizadores foram à exposição de Uberaba (MG) para trazer um comboio de animais. A Comissão comprou um vagão de animais de raça que saiu de trem para o Rio de Janeiro, de lá veio de navio até Fortaleza e chegou ao Crato de trem. Em meados de setembro do mesmo ano é distribuído entre os criadores da região do Cariri o regulamento da I Exposição Agropecuária do Nordeste, apenas dois meses antes da realização do primeiro evento no Crato, que, naquela época, recebeu a denominação regional.
O evento contou com a presença do então governador do Estado, Francisco Menezes Pimentel, dentre outros convidados ilustres, dos quais destacam-se o bispo dom Francisco de Assis Pires, que abençoou as instalações do parque, na hora da sua inauguração.
O evento aconteceu no período de 4 a 7 de dezembro de 1944 e obteve grande sucesso. Porém, entre a primeira e a segunda edição houve um intervalo de nove anos, devido à crise provocada pela Segunda Guerra Mundial, que também repercutiu na região do Cariri.
O ex-prefeito do Crato, Ariovaldo Carvalho, um dos remanescentes das primeiras exposições, lembra que somente no ano de 1950, três anos antes do centenário da cidade, o prefeito em exercício, Décio Teles Cartaxo, decidiu reativar a Exposição Agropecuária no antigo bosque, onde hoje está localizada a Praça Alexandre Arraes. Lá foram realizadas a segunda, a terceira e a quarta edições.
No entanto, na quinta edição, na administração do prefeito Ossian Araripe, ex-deputado federal e pai do atual prefeito, Samuel Araripe, em parceria com o Governo do Estado, é que o evento foi transferido para o local onde hoje é a sede definitiva do Parque de Exposição Pedro Felício, e o evento então passou a ser realizado de quatro para sete dias.
A denominação Expocrato só tornou-se popularizada a partir da primeira década deste século, quando a exposição ganhou dimensão nacional, tornando-se um megaevento com programação cultural e nomes de grandes artistas. (AV)
INOVAÇÃO
“A Expocrato implantou na região o processo de inseminação artificial na pecuária”
Ricardo Biscúcia
Presidente da Associação dos Criadores do Crato
“A Expocrato é a festa da confraternização de toda a população do Cariri”
Ariovaldo Carvalho
Ex-prefeito e ex-presidente da Comissão Central
VARIADOS PÚBLICOS
Evento tornou-se a festa do reencontro
Crato. Hoje, a Expocrato é uma das maiores do Brasil. Movimenta a economia da região trazendo emprego e renda para diversos setores da sociedade atraindo muitos turistas do País e até do exterior. É uma festa que abre espaço pra todos. A exposição lidera a programação de férias na região. É a festa mais esperada do ano, por crianças, jovens e adultos. Talvez, nem mesmo o seu criador, em seus mais ardorosos sonhos, tenha aspirado tanto sucesso nas festas da Exposição. Uma simples ideia que virou realidade.
O presidente da Associação dos Criadores do Crato, Ricardo Biscúcia, destaca o crescimento também no setor agropecuário e a contribuição que o certame tem dado para melhoria do rebanho regional. “Foi a Expocrato que trouxe para a região, há mais de 40 anos, o processo de inseminação artificial”, lembra. “O parque se tornou pequeno para a dimensão da festa”, reconhece Biscúcia.
É a festa do reencontro, quando centenas de cratenses que moram fora, retornam ao Crato para rever os familiares e amigos. Para este ano, está programada uma apresentação do madrigal, um grupo musical, formado por estudantes, que se apresentou nas principais capitais do Nordeste. “40 anos depois, aqueles jovens que encantaram o Cariri com sua música poética, estão de volta, nos braços da saudade, para reviver os velhos tempos”, diz o integrante do grupo, Nilo Sérgio. Hoje, sessentões, com cabelos brancos, os jovens da década de 60 vão se encontrar durante o período da Expocrato para reviver as emoções do madrigal.