Começa nesta segunda-feira (6) a campanha de vacinação de 2018. Até o dia 31 de agosto, o Ministério da Saúde quer vacinar 11,2 milhões de crianças entre 1 e 5 anos contra a poliomielite (paralisia infantil) e o sarampo, que voltou ao Brasil e já infectou mais de mil pessoas.
Apesar do apelo do governo para que as pessoas não deixem de se imunizar, muita gente teme que as vacinas não funcionem ou mesmo causem novas doenças. Para responder às principais dúvidas sobre o assunto, o UOL contou com a ajuda da Sbim (Sociedade Brasileira de Imunização) e de um de seus diretores, Juarez Cunha.
O que são vacinas e como elas agem no organismo?
Os pesquisadores criam a vacina a partir de partículas do próprio agente causador da doença, mas em sua forma enfraquecida ou morta. As vacinas se passam pelo vírus ou bactéria e, assim, estimulam a produção de anticorpos, ensinando o organismo a se defender. Quando o ataque de verdade finalmente acontece, os anticorpos se reativam pela memória do sistema imunológico.
É verdade que vacina causa autismo?
Um estudo com mais de 95 mil crianças, entre 2001 e 2012, provou que não existe relação entre vacina e o autismo. Os resultados foram publicados na revista “JAMA”, da Associação Médica Americana. Mas existem vários outros estudos que também reforçam a importância e a segurança das vacinas.
As Vacinas contêm mercúrio? não é perigoso?
O mercúrio é usado em pequenas quantidades como conservante nos frascos que contêm várias doses de vacinas. O objetivo é evitar a contaminação por fungos, bactérias e outros microrganismos. A OMS (Organização Mundial da Saúde) permite a utilização desse conservante porque o mercúrio é eliminado rapidamente após a aplicação da vacina.
Por que a lactose faz parte da formulação de algumas vacinas? Não é perigoso a quem é intolerante?.
Lactose é o açúcar contido no leite. Pessoas que não digerem esse açúcar podem ter diarreia, vômitos e inchaço abdominal. Isso é diferente de alergia ao leite, condição em que a proteína (e não a lactose) contida no alimento e seus derivados causa alergias. A lactose em algumas vacinas não é capaz de causar esses sintomas, já que não é ingerida e, portanto, não precisa ser digerida. “É importante destacar que há diferença entre a intolerância, que há diferença entre a intolerância, que causa sintomas de desconforto, mas sem maiores consequências, da alergia severa (anafilaxia), que pode até mesmo matar”, alerta Cunha. “Indivíduos alérgicos a qualquer substância devem conversar com o médico, que avaliará se a vacina é contraindicada ou não.”
É verdade que a vacina da rubéola causa a microcefalia quando aplicada em gestantes?
A imunização deve acontecer na infância. Entre as mulheres não vacinadas e grávidas, a recomendação é que esperem até o nascimento do bebê para, então, receber sua dose. Cunha, da Sbim, diz que a vacina é contraindicada “por haver riscos teóricos, mas nunca foram verificados prejuízos à saúde de bebês de mulheres que, sem saber que estavam grávidas, receberam o imunizante”
Como ter certeza de que as vacinas são seguras?
Foram as vacinas que erradicaram a varíola e controlaram diversas doenças, como a paralisia infantil, o sarampo, a coqueluche e a difteria. Reações, como febre e dor local, podem ocorrer após a aplicação de uma vacina, mas os benefícios da imunização são muito maiores do que os riscos temporários. Toda vacina licenciada para uso passa antes por diversas fases de avaliação em institutos reguladores, como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância “O processo não para por aí: o monitoramento de possíveis eventos adversos continua a ser feito após a liberação para a população. Dessa forma, medidas podem ser tomadas caso haja necessidade”, diz o diretor da Sbim.
Todos reagem da mesma forma à vacina?
Isso depende do sistema imunológico de cada um. Em geral, quanto mais jovem, melhor é resposta. “O sistema imunológico se torna menos eficaz com o passar dos anos. O fenômeno, evidentemente, é mais acentuado nos idosos e os torna mais suscetíveis a infecções”, afirma Juarez Cunha. “Isso só reforça a importância de manter todas as vacinas em dia.”
Quem tem doenças crônicas também apresenta resposta menos eficiente. Além disso, pessoas imunodeprimidas (com imunização natural insuficiente) e gestantes não podem receber vacinas vivas atenuadas. No caso das grávidas, o risco é que o feto acabe infectado.
Algumas doenças só acontecem uma vez, como a caxumba. As vacinas protegem tanto assim?
Nem toda vacina gera proteção para sempre. O mesmo ocorre com as vacinas. Nesses casos, é preciso tomar doses periódicas de reforço, como é o caso de difteria, tétano e coqueluche. Já algumas protegem para sempre, como as vacinas para hepatite A, sarampo, caxumba e hepatite B.
Já que doenças como a catapora são leves, por que vacinar?
Todas as doenças que podem ser prevenidas por vacinas são potencialmente graves. Há casos de hospitalização, sequelas ou óbitos, mesmo pela catapora. Se ela acometer uma pessoa mais velha, o risco é que haja complicações nos sistemas respiratório e neurológico, pneumonia e infecções de pele. Além disso, a catapora obriga o afastamento das atividades cotidianas para evitar a transmissão.
Conheço crianças que não tomam vacinas e não adoecem. Por que devo vacinar meus filhos?
Muitas doenças não atingem 100% das pessoas graças às vacinas. Quanto maior o número de pessoas imunizadas, menor a chance de as não vacinadas adoecerem. Mas é quase impossível prever quem adoecerá e, principalmente, quem desenvolverá as formas mais graves da doença.
Algumas doenças quase não existem mais, como a paralisia infantil. Por que vacinar contra elas?
A continuidade da vacinação mantém o controle ou erradicação das doenças. O mundo é imenso, mas as distâncias estão cada vez mais curtas em razão da globalização, o que estimula a circulação de vírus e bactérias até mesmo de um país para o outro, reintroduzindo antigas doenças. “A única doença realmente erradicada, ou seja, cujo vírus não circula mais em nenhum lugar no planeta, é a varíola, contra a qual não há mais vacinação”, diz o diretor da Sbim. “As outras estão controladas (incidência baixa) ou eliminadas de uma determinada região (casos da poliomielite e do sarampo no Brasil). Enfermidades controladas ou eliminadas podem voltar, por isso é essencial manter altas as coberturas vacinais.”
Por: Uol